Um grande amigo me mandou um texto de certo autor que quer saber por que as pessoas se casam de papel passado. O autor cria mil óbices para argumentar contra.
Pelos argumentos, ele se situa do lado de fora; vê os acontecimentos por um binóculo; não entra; e, pela visão de fora, aponta todos os aspectos que imagina, como negativos, desairosos. Que pena!
Defendo a mente humana; não defendo o processo social; o que se busca com essas considerações, é confundir a mente humana.
O casamento de papel passado propicia um benefício para o homem; o casamento de papel passado é uma tentativa de beneficiar o homem, na trajetória de seu destino.
Talvez o autor não saiba o que é morar no interior, em cidade pequena, o quanto ferve um comentário de que a filha de seu fulano saiu de casa e foi morar com o Oswaldinho, o da farmácia ou está morando com um pé-rapado. Esse autor não pensou no que é a vergonha por que passa um pai em situação assim. Satisfez-se com as aparências do casamento; satisfez-se com a casca e nada sabe sobre o âmago da árvore de onde deveria extrair o suco de suas idéias.
Na realidade, o casamento com cerimônia e tudo mais tem alguns sentidos:
- defender os filhos contra as más línguas.
- chamar a sociedade como testemunha dessa defesa.
- zelar pela honra da família.
Isso não é tradição; isso é prevenção. Se o moço não conhece isso, então não pode entender o que digo. Dizem que a verdade tem um brilho que ofusca a visão dos renitentes. Sabe o que é um homem desonrado?
Uma moça que anda por aí é traidora do pai; seríamos capazes de auferir a extensão da dor de um pai traído? Se a esposa o trai, ele explode e é capaz de chegar a vias de fato; mas se a filha o trai, a dor é contida; o pai se sente só, porque tem vergonha de desabafar a própria dor; e ele a tem de curtir na solidão.
Qual é o pai, a mãe que não deseja o melhor para seus filhos? E qual o meio de manifestar esses desejos senão evocando sobre eles os princípios religiosos?
Os pais não podem entregar os filhos como quem entrega mercadoria. Eles sabem que estão lidando com vidas e é preciso criar-lhes um ambiente de religiosidade que dê sustentação à vida. Nessas condições, nada mais adequado do que as cerimônias religiosas.
- canalizar energias positivas sobre os filhos.
- pedir o auxílio dos planos superiores sobre eles.
- abençoar os filhos, em sua intenção de reproduzir a vida.
Depois de tudo isso, quando os dois fecharem a porta, se a coisa não der certo, os pais fizeram o que estava a seu alcance, a sociedade viu; alguns dos convidados é que não estavam à altura de participarem dessas cerimônias.
Aprendamos a separar as coisas.
Há um terceiro aspecto: o homem precisa conviver com a mesma mulher o mais possível; aquelas perguntas que ela faz ao homem são no sentido de conduzi-lo à própria interioridade; é incumbência dela esmagar a cabeça da serpente; esmagar a cabeça da serpente é isso; conduzir o homem para dentro dele, para que ele experimente o mundo da consciência; a que a serpente não tem acesso; a serpente está no mundo da razão; a mulher conduz o homem para o mundo da sabedoria, verdade, justiça e amor; esses exercícios, sem a cobrança da mulher, são praticamente impossíveis porque o homem nem tem consciência deles.
Quando um homem deixa uma mulher, ele sai perdendo, mesmo que se junte a outra no imediato; a anterior já sabia como ativar os pontos de conduzi-lo para dentro; a seguinte vai precisar de outro tanto de tempo para dar prosseguimento ao que foi interrompido, se é que ele vai esperar...
Um quarto aspecto é que, quando um homem assume um compromisso, sobretudo de papel passado, ele se compromete com uma verdade; a verdade é um atributo da alma; se deixa de cumprir esse compromisso, afastou-se da própria alma, rompeu com a verdade; fechou ainda mais os portões de dentro; se não se conserta, deserta de si mesmo.
O casamento é uma necessidade no plano do sagrado; e o sagrado corre por dentro de nós; se vulgarizarmos essas coisas; a vulgaridade não está no casamento.