Resolvi fazer meu testamento; prefiro apontar os beneficiados; fica mais autêntico; só que não sei como se faz um testamento, quando não se tem nada que deixar. Sei que vou fazer o testamento: uma arapuca de pegar passarinho, um selim de montaria e umas três camisas, furos perfeitos; assim me livrarei em vida desses apegos e dispenso meus herdeiros de possíveis desentendimentos.
Se os passarinhos se dispuserem a reivindicar sua parte, é só tirar a palha que está no forro do selim. Eu tenho que evitar que atirem pedras ao que se foi.
Sabe aquela tribo? Eles acordavam bem cedo para louvar o sol; hinos e mais hinos; os mesmos se juntavam para atirar pedras ao sol que se punha. Temo que assim seja comigo; uma coisa sou eu em vida: admirado pelo que tenho, outra serei eu, quando sair de braços dados com a grande libertadora; quero evitar os ciúmes.
Atualmente sou pessoa louvada por bem sucedida, mas fico pensando naquele sujeito: amava tanto a ex-mulher, amava-a tanto que, embora separados, deu-lhe fim quando a viu com outro. Dá pra entender? Eu temo esses arroubos quando me virem com a outra.
Agora você entende o quanto é importante doar os bens. Se, na hora da partilha, perceber agitações, reivindicações, incluo meu coração; é o que julgo de mais precioso e eles merecem; no final das contas são meus herdeiros.
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