Tudo se realiza pela equilibração dos opostos.
Um místico que viva sua mística apenas, não está equilibrando os opostos. Ele precisa atuar no mundo, no meio do povo, caminhando com ele; ele precisa atuar do lado de fora e dentro de si mesmo.
O místico de nosso tempo é um trabalhador braçal, um técnico, um administrador; ele tem consciência de que não precisa se exibir diante dos outros, já porque essas posturas são contrárias à mística.
Um místico de nosso tempo entra na fila do ônibus, ouve a piada do colega e todos esses são estímulos para que ele se supere em sua decisão de ser místico.
No livro “Professores para quê?”, o Sr Georges Gusdorff citando os Irmãos Karamasof, conta-nos a história daquele príncipe que freqüentou as melhores universidades de seu tempo, à procura de uma resposta; não sabia qual era; apenas sentia a angústia que as universidades não conseguiam clarear.
Com a invasão de Napoleão, ele teve de chefiar um pelotão; por infelicidade sua, todo o seu contingente foi aprisionado pelos franceses e o moço teve de se vestir de soldado para evitar a identificação, que seria um troféu para o corso.
Todos foram conduzidos a um imenso porão escuro. De onde estava, ele ouvia um soldado que se exprimia por aforismos:
Deus tarda mais não falta;
Casa de ferreiro espeto de pau
Quem tudo quer, tudo perde.
O príncipe se fixou naquilo e tentou se aproximar daquela voz; tudo escuro.
- como é seu nome
- Eu sou o Platocha.
- o que você fazia antes de vir para cá?
- Eu era ajudante de pedreiro. Sabe? A fé move montanhas e nós vamos sair daqui.
O príncipe ficou impressionado com aquele homem. A resposta que procurara nas universidades estava ali naquele homem simples; não era um homem simples, era um mestre, um místico.
Naquela noite empreendeu-se a fuga; todos fugiram mas o Platocha não resistiu à marcha; desfaleceu e não se recuperou; o príncipe o cobriu com um lençol branco de neve.
Aquele ajudante de pedreiro era um místico, na mais simples de sua simplicidade; não precisou de luz para se manifestar; ele era a luz; o que as universidades não revelaram estava ali, naquele porão escuro; ali as latências que moviam o príncipe em suas peregrinações, vieram à tona e o príncipe teve ensejo de se revelar a si mesmo: tinha encontrado o equilíbrio de seus opostos.
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