segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Homens e seus enigmas – 3/6 ( Em 22/07/2008 )

            Homens e mulheres subindo a montanha de difícil acesso. De quando em quando paravam, faziam preces; cantavam e reiniciavam a subida; no alto do monte havia duas cruzes com fitas de cores leves que se agitavam ao vento. E cantavam seus hinos e faziam preces olhando para o céu. Acreditavam que do alto vinha o poder.
Alguém me segredou, no centro da cabeça que aquelas criaturas não tinham escola, nem biblioteca, nem livro; formavam apenas uma comunidade de fé, entrelaçadas pelo mesmo poder de sintonia com o sagrado; viviam para o sagrado e o que produziam era comum a todos.
E me perguntei por que pessoas de tanta sintonia olhavam para fora de si mesmas? Por que o divino não lhes segredou que não precisavam subir o monte?
Deduzi de tudo aquilo que subiam a montanha por alcançar as alturas. É uma sensação também nossa; há algo de mistério; não percebemos que apenas o silêncio das alturas se sintoniza com nosso silêncio interior.
Não sei se me farei entendido: os grandes artistas entram em si, mas entram com um objetivo de encontrar uma expressão singular de arte. Com esse objetivo, não podem alcançar a divindade; resulta disso o serem conflituosos, angustiados porque seu espírito passou pelas periferias e não entrou na cidade de Deus.
Ora, assim como acontece com os grandes artistas de serem conflituosos, também era de se verificar com aqueles homens da subida.
Os artistas descem com objetivos; aquelas criaturas sobem com objetivos e os objetivos com que descem ou sobem tira-lhes a intuição de se identificarem com valores que ultrapassam seus objetivos.
A descida tem de ser no vazio de qualquer interesse. Aqueles homens e mulheres vão buscar, no alto do monte, o vazio que deveria ser encontrado dentro deles mesmos.
Aqueles seres são o produto indireto de algum culto primitivo que lhes incutiu a idéia de que a divindade está num lugar; o lugar é o centro e não foram orientadas a perceber o centro em cada um deles, cada um de nós.
O silêncio do alto é diferente do silêncio de dentro; o silêncio do alto é ausência; o silêncio de dentro é presença; a alma está logo ali.

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