Duas flores conversando. Já pensou aquilo no pincel de um Michelangelo! A suavidade dos tons; daria até para ouvir o que diziam as duas.
Falavam do vento nem sempre delicado como seria de mister; abria-lhes a pequenas hastes com a agressividade do estupro e lhes arrancava os pólens, fios de cabelo, que se estendiam pelos campos. Mas havia, segundo elas, a brisa fresca que lhes garantia a exuberância com que louvar o deus das flores.
Súbito uma falou de algo como, como... helicóptero. Então as duas soltaram inocentes risadas de quem age com esperteza, na direção da trapaça; não se sabia bem o que falavam até que se ouviu a expressão: “vêm buscar, levam”. Foi possível deduzir o que as danadinhas falavam; vinham os insetos à busca de alimento e elas lambuzavam as pernas e as asas de pólens que fossem levados a outras regiões.
Os que pensavam usurpá-las eram na realidade os usurpados, carregadores de aluguel. Espertas aquelas flores! Em meio à conversa, uma descreveu com gestos algo de que se deduziu ser um grande avião, imenso avião que adejava os territórios dela e tudo cobria com gigantescas asas. Esses também eram enganados.
Pela descrição, imaginavam-se aqueles jatos em missão de abastecimento no ar. É que o grande avião de que elas falavam, enfiava-lhes um longo cano e por ali jorrava o sangue de seus colos invadidos. Também desses, por grandões que fossem, elas aproveitavam a agitação de suas hélices para liberarem pólens em grande quantidade que eram grudados a corpo da aeronave e seriam liberados em outras plagas.
Nisso ficou o sentido da participação; partículas produzindo partículas para outras partículas; o que muda é apenas o estágio de desenvolvimento.
Decerto a natureza ouvia a prosa de suas princesas e se sentia feliz com a singeleza da inocência graciosa.
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