Há muito escrevi sobre o amor. O tempo passa e as idéias vão se depurando e se percebe que algumas coisas não foram ditas. Isso acontece com quem lida com assuntos abstratos; novos fluxos vão chegando e é preciso exprimi-los, pois nada nos pertence.
Sob este aspecto, a escrita é catártica, quem escreve tira de si mesmo aquelas incumbências que lhe vêm à mente com procedências de outras estratificações.
Vi certa vez um orador falar de amor; tecia considerações que iam desde os peixes do mar até a via láctea que se fez de leite por amor; um amor, segundo ele, cara ou coroa, que habita a fronte dos reis e das rainhas, freqüenta áreas obscuras ou se deixa levar pelas águas de outras praias.
Ante tanta eloqüência, ousei perguntar-lhe sobre o amor-coroa, ele me respondeu que o amor é uma coisa a mais bela que une os corações de dois ou mais seres na busca de se realizarem como pessoas, na plenitude de sua felicidade.
Que beleza!
O vazio daquelas palavras fez-me entender o amor como algo vazio; só que aquela resposta pretendeu de encher o amor com algo que o amor não tem.
O vazio do amor é aquele sentimento que nada quer.
Um coração vazio só tem sentimentos vazios; determinado a ser útil, projetar-se com bondade na direção do outro.
A consciência é a suprema fonte; nada além dela. A consciência se exprime em todo coração quanto mais vazio.
Pela consciência conhecemo-nos e temos ensejo de ser para os outros.
O amor é uma emanação da Consciência; o amor é irmão da alma. Ambos precisam do vazio em que se expandam. Dentro de nós está o vazio; esse vazio de dentro precisa ser trazido para fora quando eliminarmos todos os eus e todos os meus.
Assim o amor manifesta seu lado coroa; a coroa identifica a nobreza; a rainha é a Consciência; a princesa é a alma, o príncipe, o amor, o filho sucessor. Não há rei nessa hierarquia porque a predominância é feminina e o amor, instalado nos domínios da Consciência, tem de estar vazio quanto ela, sem nada querer, sem nada exprimir senão ser um com ela.
Éta coisa funda, barbaridade!
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