Em que parte do mundo, o povo comemora seus festejos lutando na lama? Os corpos ficam untados por uma placa térrea que um jato de água retira. Descansa a mente divertindo-se.
Aquilo serve bem de exemplo para a expressão “entrar nas coisas”; é preciso entrar, falar de dentro, sem o que, qualquer manifestação é imprecisa.
No caso dos lamacentos, eles estão dentro do evento; esse evento é parte de sua história; estão conscientes de seus atos.
Nós de fora achamos aquilo sem propósito: quem já se viu enlamear-se daquele jeito, que coisa mais brega! Povo bárbaro!
Se não temos experiência das coisas de dentro, como podemos opinar sobre esses valores aqui do lado de fora? E tudo se resolve por uma piada de descrença, uma palavra desairosa e com isso se embota sempre mais a mente.
Muitos têm lama nos olhos e não se percebem depositários de uma caverna de límpidas correntezas.
É só ter confiança em si mesmo; fé no alcançar o que se busca; lá dentro, os olhos ficam limpos e somos impulsionados a andar. Se quisermos voltar para cá, pode ser que não nos acostumemos com a luz do sol.
Quando falava sobre esses assuntos, fui interrompido; meu coração me arrebatou a palavra e começou um discurso estranho:
Nós chegamos aqui limpinhos de tudo e pretendemos sair com essas manchas de lama! É pretensão demais! Basta enfiar a cabeça nas águas, tirar o pó dos caminhos, sem o receio de se afogar que, mesmo afogados, chegaremos.
Acostumados à sujeira dos festivais de Baco, ergueram-se estátuas aos deuses do capital, do orgulho, da ambição e vai por aí.
Aqui, de onde falo, aqui é lugar sagrado; aqui vêm as vestais trazer oferendas às virtudes humanas neste templo que é o lugar do silêncio dos justos.
Depois de dizer essas coisas, ele se recolheu.
Eu jamais entendi aquelas palavras de tanta ênfase que me soaram sem conteúdo.
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