quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Causa e Efeito - 5/5 ( Em 09/04/2008 )

Os prisioneiros seguiam arrastando pesadas correntes e cercados por homens orgulhosos do ofício. Olhando-se do alto, aquilo era um esquadrão do medo.
Qual a diferença entre os aprisionados e aqueles carrascos?
Os de dentro tinham acorrentados pés e mãos; os de fora iam acorrentando a alma, no esforço para aterrorizar os de dentro, que já não tinham mais o que temer. Os de fora se vestiam de orgulho pela posição de se julgarem distantes daquela situação; os de dentro entoavam hinos com que se vestiam para a grande libertação.
Ah! Os de fora se moviam com tanta arrogância que eram nuvens pretas; os de dentro tinham a cor da claridade que paira sobre os caminhantes em consciência de seu valor.
Parecia que a grande dama seguia os de fora, consolados pelos de dentro; os de dentro entoavam canções de ninar.
Por que a divindade cria esses nós na cabeça da gente? O que há de Ser, já não é; o que não é há de ser.
Chegaram ao lugar e foi lida uma pauta. Pronunciado o nome de cada um, era atirado no fosso do eterno não-ser para Ser.
E o canto prosseguia lá de longe, numa linguagem que já não se entendia, tangida por instrumentos de outras escalas.
Terminada a cerimônia, os guardas foram beber cerveja no bar mais próximo, felizes pelo sucesso da incumbência.
Ali adiante, aqueles prisioneiros voltariam à mente de cada um; o orgulho iria servir-se deles para lhes despertar o remorso; tinha sedimentado raízes naquelas mentes broncas e iria fazê-los seguir os mesmos passos em cortejo, revestidos de sombra para as sombras; seria o efeito da causa que plantaram em si mesmos

Nenhum comentário: