sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Estudos de Paganini - 6/6 ( Em 18/06/2008 )



 Esses estudos de Paganini são de lascar! Doideira! Só de ouvir, dá inquietação. Que coisa terrível! O violinista pula da primeira posição para sétima e lá tem de acertar um vibrato; é como acertar na mosca a trinta metros.
O vibrato é um som alcançado pelo violinista sem que ele aperte a corda; ele apenas pousa levemente o dedo sobre a corda e o violino emite uma espécie de assovio sem desfigurar a sonoridade da frase e tudo isso com a rapidez da fórmula 1, em que valem os milésimos de segundo.
No violino o tempo e contado em comas, para indicar entrada, saída ou extensão dentro do limite de cada nota.
Em Paganini o violinista tem de primar por uma incrível precisão de tempo nas escalas ascendentes, descendentes, terças e quintas posições de dedos, notas que deveriam ser tocadas em uma corda e Paganini indica em outra, o que exige treino nada inferior a 6 horas por dia.
Para se ter uma idéia das exigências da música, dizem que Karajan, um dos maiores maestros do século passado, precisou reger orquestras ao longo de cinqüenta anos para se aventurar a gravar a nona sinfonia de Beethoven. O que se aplica ao maestro, não é menor a exigência a um solista, sobretudo de violino, de piano. 
Já nem falo da manipulação do arco, aquele que desliza sobre as cordas. Aquilo alcança um peso absurdo que o estudante precisa dominar, superar com muito esforço.
Pode se dizer que um violinista é um indivíduo que se superou. Acrescente-se ainda o ouvido; pelo ouvido, o executante alcança a nota correta por pura intuição, prática exaustiva. Sem qualidades excepcionais, o violinista não se aventura a essas alturas de Paganini. Leve-se em conta ainda o desafio da clareza; cada nota deve soar clara numa seqüência de sopro, sem agredir o equilíbrio.
Por que me meto nessas esferas? Pra trazer uma comparação: os homens se submetem a essa rigorosa disciplina com a certeza de que vão superá-la; e negligenciam quando se lhes propõe que entrem em si mesmos.
As notas de Paganini soam como pedras de cristal caindo umas sobre as outras; admiramos o violinista que alcança essa perfeição e não nos movemos a tirar sequer um arpejo de nossa alma; buscar a perfeição em nós mesmos.


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