segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Estudo - Conto - 6/6 ( Em 15/07/2008 )

            Passei o dia todo em uma festividade; uma roupa bege clara; à noite seria o grande encerramento e eu não tinha outro terno que trocar; apenas uma calça, uma camisa de cor escura; pensei em não comparecer.
            Foi então que aquele homem me disse incisivo: - “você tem de ir para me ouvir”! Ficamos longamente sentados; ele em silêncio, eu com o intuito de puxar conversa, disse que ele estava passando por uma fase brilhante; ele esboçou breve sorriso de confirmação e permaneceu em seu silêncio sereno.
            Pedi auxílio a outras pessoas sobre minha carência de uma roupa; elas não se interessaram por minha causa; pareciam estar em outro plano e não entendiam minha linguagem de apego.
            Aquilo eram deslizamentos que a mente cria;  quando se solta, perde o pé-de-apoio e bóia buscando apego no primeiro poste que lhe esteja à frente e, na correnteza, vêm os toros de madeira “você tem de ir para me ouvir”.
Aquele homem decerto ia fazer uma conferência que eu precisava ouvir. Por vaidade não era, que ele permaneceu sóbrio? Por algo que eu precisava aprender? Confiança talvez? Eu deveria lhe fazer a crítica?
            Lembro-me que pensei em pegar um papel de anotações: pontos de vista que precisavam de confirmação?
            Não me lembro qual foi o grande místico pregador que adotava o hábito de colocar em meio a seus ouvintes, um monge de pouca instrução; após o sermão, teria de fazer perguntas ao pregador, mesmo descabidas, sobre o assunto de que tratara; o pregador perceberia se o que dissera fora entendido ou não; julgava também ser uma forma de quebrar o convencimento, a vaidade, o orgulho.
Quanto a mim, o que eu precisava ouvir era o silêncio daquele homem; o que eu precisava ouvir era sua voz de desapego que continua repercutindo em mim como lição de vida.

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