Foi dada a palavra ao grande ancião; era de justiça que se defendesse de pesadas acusações sobre seus ombros. Ele e a mulher, os réus do povo.
Começaram o discurso pela exaltação de indestrutíveis laços entre os antepassados, as tradições, a união entre os familiares e disso pulavam para o futuro com promessas de esclarecer o hediondo caso; oscilavam assim entre o passado e o futuro, sem nenhuma raiz no presente, faltava-lhes o eixo.
A condição de acusados exigia defesa veemente, mas o aqui e agora lhes fugia e eles perdiam a veemência. Foi possível perceberem-se repetições, lugares comuns que davam a impressão de conivência. Isso levou o povo a se firmar ainda mais em suas ânsias de justiça.
O casal violara o templo sagrado servindo-se de uma criança para ofícios funestos e isso despertou o furor da turba, que não se perdoam atos de tanta injúria, quanto mais originários daqueles a quem a Providência incumbira de zelar por suas relíquias sagradas. Agora estava ali negando as evidências pela fragilidade de uma linguagem que nem a eles convencia.
Por aquela fala, percebia-se o quanto satanás se empenha em levar seus seguidores a lugares de desolação; tirar-lhes a substância e a eles deixar boiando em águas turvas, expostos ao frio da indiferença.
Era de se notar ainda o quanto estavam distanciados da consciência; a mente agindo sem sustentação desliza para o passado ou para o futuro, exatamente os pontos em que o casal se fixava porque, no presente, está a consciência de que o casal se afastara e, é claro, onde falta a consciência, a mente expõe sua fragilidade.
Pareciam situados em algum porão escuro, de onde emitiam sons desconexos; a porta da saída lhes fora franqueada, mas a claridade lhes ofuscou a visão e, ao que tudo indica, eles estavam demasiado presos na rede; não havia como alcançar a luz.
Nenhum comentário:
Postar um comentário