Apareceu aí um e-mail com fotos da menina Isabella, aquela menininha que foi para o céu por uma janela; a escolha da música é de extremo bom gosto, mas a mensagem peca pelo excesso de ponderações que a autora inseriu.
O texto é um pedido de desculpas à Isabella; louvável iniciativa. É trabalho excelente para um jornal, uma circular; no entanto ali, subordinado a mais dois fatores: às fotos e à música, perde a força de seu conteúdo.
No texto sobre a Isabella, bastaria que a autora apresentasse duas ou três palavras incisivas e concernentes à situação sugerida em cada uma das fotos, conforme fossem mudando.
A música em si já sugere horizontes perdidos, coisas que se confundem na vastidão. As fotos de Isabella sempre rindo, conservando em seus reservatórios o viço da inocência. Não sei por que me ocorre que a flor viceja mais no pântano.
Ainda não se sabe onde era o pântano, mas a voz do povo aponta para certo norte, onde se diz haver muita água suja.
O fato é que a Isabella descansa de uma viagem que não fez; fizeram nela.
Eu só faço uma idéia da quantidade de carrapatos que devem estar sugando a consciência do agente e do acólito, se houve. Não! Eu disse mal, não há carrapatos sugando a Consciência; que a consciência não se envolve com essas sutilezas da lógica de matar e se esconder; não no campo da consciência. Isso se acumula, soma-se no inconsciente; do inconsciente é que vem a baderna. O inconsciente é que deve estar em festa,um carnaval com trio elétrico cujo cantor não conseguiu ainda afinar uma nota nos palcos por onde passa com documentos que saem do nada para lugar nenhum. É que os lamentos dos cantos não encontram como organizar um coral que dê sustentação à voz de solo.
Recentemente se contratou um maestro que entrou no palco em grande estilo, mas logo de início a batuta quebrou e ele saiu deixando a platéia em suspense. Soube-se que anda fazendo uns ensaios extras, mas aí foi a vez da orquestra; sem batuta, não se alcançou o ritmo porque as mãos sem batuta eram inexpressivas e a música perdeu o elã,
Nossa! Eu me perdi da Isabella e tratei de assuntos de que ela não participou! Era de minha obrigação permanecer com o e-mail, mas acabo verificando que fui conduzido por um fio condutor interno porque lá, como aqui predomina a desfiguração, o resultado inexpressivo.
Só a Isabella permanece em seu descanso.
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