Existe o Cristo histórico, ao qual se celebram ofícios e cultos nos templos.
Existe o Cristo místico, filósofo, profundo conhecedor da alma humana; ninguém foi tão fundo além dele, ninguém!
Minhas referências são sempre ao Cristo místico, aquele que nos conduz para dentro de nós mesmos, no isolamento de nós mesmos.
O Cristo manda seus discípulos pregar pelas cidades e recomenda a eles que, no caminho, não cumprimentem ninguém; “a ninguém cumprimenteis pelos caminhos”. Lc 10,4
Os discípulos entenderam assim: ide tão concentrados em si mesmos, tão voltados para si mesmos que não vejais as pessoas pelos caminhos por onde passardes
Ele chega a uma casa onde moram duas irmãs Marta e Maria. Maria se senta ao lado dele a ouvi-lo; Marta se põe a limpar a casa; então o Cristo a adverte: Marta, Marta, andas muito preocupada com as coisas deste mundo. Maria escolheu o melhor. Lc 10, 38-42.
Maria não escolheu o melhor porque se sentou ao lado do Cristo, senão por ouvi-lo falar sobre a interioridade humana. Foi nisso que ela escolheu o melhor.
Enquanto a Marta estava preocupada com as aparências da casa, Maria se preocupava com as essências de sua natureza mística.
Essas duas moças são irmãs de Lázaro de quem se diz que Cristo ressuscitou.
O cinema nos mostra Lázaro saindo do túmulo. Aquilo causa frenesi no público; aquilo se relaciona com o Cristo histórico. A história cria imagens com que nos impressionar.
A verdadeira ressurreição que Cristo fez sobre Lázaro foi a de despertar nele as próprias potencialidades. Lázaro estava morto; isto é, inconsciente, desinteressado a respeito de si mesmo; Cristo despertou no Lázaro o outro homem que dormia dentro dele.
Já se percebe que Marta atuava pelo lado de fora, preocupada com as aparências. Maria estava situada pelo lado de dentro dela mesma; identificou-se com as palavras do Cristo; escolheu o melhor porque estava interessada em assuntos que a conduzisse à própria interioridade
É neste aspecto que precisamos distinguir as duas dimensões do Cristo porque ninguém como ele alcançou tão fundo a interioridade do ser humano.
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