quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Padre voador - 2/6 ( Em 29 /04/2008 )

E vem o Rodrigo, paulista que mora em Manaus, com suas provocações que escreva sobre o padre das bexigas. Deu errado porque as bexigas estavam cheias de vaidade; na realidade não era de minha intenção ocupar-me de assunto que me pareceu tão vazio quanto a causa pela qual o padre se lançou nessa aventura, não fosse ser o Rodrigo que é um fiel ledor e crítico de meus textos e pelo muito que lhe devo.
Existem duas espécies de altura, a primeira é essa que os homens buscam no espaço, desde o Ìcaro na mitologia. Quem iria imaginar que esse padre desse uma de Icaro, pensando que iria encontrar Deus lá em cima! Nunca lhe passou pela cabeça que, para encontrar Deus é preciso descer...
A segunda é aquela que resulta dos espaços que abrirmos dentro de nós: essa é a verdadeira; com certeza aquele padre não tinha formação sobre esta; se tivesse, não teria ido dormir no colchão gelado das águas em que, ao que tudo indica, foi se envolver com peixes de grande porte.
O homem nem sabia manipular os instrumentos com que se orientar! A bateria do celular tinha previsão precária e, mesmo assim ele foi e de sua história só restaram chacotas por tanta imprudência. 
Uma historinha talvez ilustre essa diferença de almejar as alturas; daquele moço que vivia descontente por ver seu povo atado às tradições e delas sem poder sair. A história conta que, no fundo do rio, vivam uns arbustos enfiando as raízes na terra dura ou se agarrando às pedras, para não serem levados pelas correntes; o jovem arbusto revoltado ameaçava se soltar e era contido pelos demais, com a alegação de que viviam assim há mais de dez mil anos. Certo dia ele se soltou e, sem esforço, ganhou a flor das águas que o conduziam em liberdade. Os debaixo diziam:
- olha, ele é o messias que veio para nos salvar!
- não! Eu não sou messias; sou apenas um que se soltou!
Este da história, soltou-se pelo bem de seu povo; quis mostrar a seu povo que existe uma outra realidade quando nos soltamos dos hábitos, dos costumes que nos fossilizam. O Padre não; esse queria apenas ser mais; desafiou a lei da natureza e a natureza sabe onde recolher os imprudentes. Quis aparecer mais e desapareceu.
Foi aprender que a verdadeira altura se alcança descendo.

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