quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Menino Triste - 2/6 ( Em 14/05/2008 )




 A Luciene estudou comigo há uns 25 anos; aquilo não era um Colégio; era um ponto de encontros culturais, que o Diretor fazia questão disso; homem sério!
Para mágoa minha, não vi mais a Luciene; de quando em quando ela escreve e dá o tom; mexe comigo; sabe qual é minha corda sensível. Assim não dá!
Essa criaturinha lúcida me escreveu expondo a dor pela morte de Arthur da Távola; uma perda natural para o homem que tem uma missão a cumprir, cumpre-a e se retira. Agora é seguir as normas que ele deixou. Sobre essas coisas, a Luciene escreveu e, lá pelo meio de sua exposição, diz ela que recitou, em classe, um texto de Arthur da Távola e veja que provocação a Luciene faz comigo: disse que o título de seu texto era “O Menino Triste”. Já naquela época, essa criatura buscava encontrar meu ponto fraco; judiava de mim porque, com certeza, identifiquei-me com a tristeza daquele menino; não que tivesse carência; é que essa “tristeza” vinha de uma dimensão por explorar, que a Luciene fez por me mostrar e diz ela que, quando terminou, meus olhos marejavam. Uma lágrima veio e o silêncio se fez na classe.
Aí já não era mais a colegial; era a mulher; veja o que elas fazem por nos revelar a nós mesmos: veja em que  consiste o trabalho delas; é ler nas entrelinhas o que elas dizem.
Até agora, eu ainda não consegui decifrar o conteúdo da carta da Luciene, mas é certo que ali dentro, há uma mensagem em código que nem ela percebe, mas que está ali por ser desven
dado.  
De papo, a Luciene é um doce mas, quando se serve de instrumento a me despertar, eu já não conheço essa moça. Ah! Se eu tivesse a sensibilidade de ler e escrever nas profundezas do indizível... Saberia identificar de que dimensão veio a mensagem que a Luciene escreveu e, quem sabe, deixaria de ser o “menino triste”.

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