sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Entrevista – 2/6 ( Em 02/07/2008 )

                                 - O que te diz a vassoura?

                                 - Nós falamos de nosso destino acanhado.

                                 - Tens confidências com ela?

                                - Falamos de nossas limitações.

                                - E se ganhasses na loteria?

                                - Eu iria pelas ruas conversar com os outros colegas.

                                - E se te aparecesse uma loura, uma morena bonita e sedutora?

                                - Não vá o sapateiro além da chinela, moço! São sonhos que não cabem na minha cabeça.

                                -  Eu só sei falar com a vassoura. Nosso destino é igual: seremos descartados.

            Saí arrasado. Aquele gari era um místico em missão de limpar inclusive a mente que vai poluindo as ruas e outras mentes. Ele se aceita em suas limitações: se ganhasse na loteria, iria conversar com os outros; tinha limitado os próprios sonhos.
Ocorreu-me um pensamento, e se em vez de ficarem aqueles homens lá na ONU discutindo como limpar o planeta, que tal se fossem garis? Seriam mais práticos, eficientes e objetivos, mais interiorizados.
            Eu fui despertado por aquele homem simples. Sua teoria de não ir além dos limites é perfeita.
Uma lição de vida; que eu viva com a cabeça voltada sobre mim mesmo; não me sirva do outro que limpe o que eu vou deixando pela rua, indiferente ao que vem atrás corrigindo minha falta de educação.
            “Seremos descartados”. Nisso aquele homem não se limitou a nós dois; todos fomos atingidos por aquela síntese de advertência; ele alcançou o mesmo nível que encontramos nos textos bíblicos:  “lembra-te de que és pó e que em pó te hás de tornar”.
            Na síntese, a dura advertência que eu tive de engolir, porque não sei ser simples como o homem a quem abordei na rua.

Nenhum comentário: