sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Crônica – O mosquito – 5/6 ( em 18/06/2008 )



            Madrugada e o mosquito circula pelo quarto. Não sei se procura saída; sei que a luz é acesa e isso o incomoda; ele faz volteios sem descanso. Apiedo-me daquela vida que se exprime sem destino e vejo, em sua inquietação, o destino que os homens tentam traçar para si mesmos, presos a ideais de projeção.
Como este insetozinho, voam ao léu de sonho em sonho, até que se abra a janela e saiam. Onde quer que forem, levarão a marca daquela prisão em que eram livres pra sonhar, não eram livres pra sair.
Da vida inteira, se não levam requisitos de sustentarem as asas, pouco significará a liberdade que ganharem; ela lhes será estranha prisão porque lhes faltam nortes de prosseguir em outro plano, quando a janela se abrir.
Concluí que nem sempre procuramos o que nos serve; em virtude de nossa dupla dimensão, o bem que procuramos pode repercutir como um mal no outro lado de nós mesmos.
O mosquito procura uma saída; nós temos de procurar uma entrada; sem estarmos em empatia com a parte de dentro, nossa saída pode ser de tropeço.
Somos livres pra escolher, mas essa liberdade é limitada porque, no ato da escolha,  aquele outro não participou; não estava presente.
Para aquele mosquitinho, meu quarto era uma caverna em que ele girava sem norte; a mim também me falta o norte se não levar sintonia com o outro lado de meu destino.

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