terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Vestes antigas - 6/6 ( Em 29/07/2008 )

             Nas grandes literaturas, aparece essa expressão “retirar” as vestes antigas. No Fisher King o moço príncipe quer entrar no palácio por intuição de que ali está sua amada; o escudeiro grita: “tire essas roupas velhas que sua mãe lhe deu”! É uma referência aos hábitos e costumes a que nos apegamos e de que precisamos nos desvencilhar, se quisermos entrar no “palácio” de nossa interioridade.
Não raro pensamos que o desapego é apenas de bens e nos esquecemos do orgulho, a mesquinhez; não nos darmos conta de que isso faz parte das roupas velhas. Essa “mãe” a que o escudeiro se refere pode ser a sociedade, a religião, a escola, são instituições que podem revestir o jovem com certas armaduras de que ele não consegue perceber-se vestido.
Conta-se que o filhote de camelo perguntou à mãe:
- mãe, por que nós temos essa corcova?
- para superarmos as distâncias, sem água no deserto filho, sem ela morreríamos de sede.
- mãe, por que essas pernas tão compridas?
- para não ficarmos presos aos areais do deserto, filho.
- mãe porque esses pelos tão compridos sobre nossos olhos?
- o vento é forte e traz pedras junto com os areais; sem esses pelos, ficaríamos cegos, filho.
- mãe, se nós nascemos para viver no deserto, por que estamos num zoológico?
            Dá pra perceber as vestimentas inadequadas dessa mãe? Não tem consciência sequer da realidade que está vivendo com o filhote, presa a costumes de que já não mais se utiliza, passa a ele uma noção de algo irreal; é a mente que parou no tempo. Não é diferente conosco; não sabemos abdicar da mentira, da inveja, das aparências e vai por aí.  
Devemos ser os guardiões de nós mesmos e nos despirmos dessas fantasias; quem nega a necessidade de se vigiar é porque se nega a encarar algo de um passado sombrio; procura nivelar todos a seu estado patológico desastrado.
A vida é hoje; aqui e agora, adaptar-se a esse aqui e agora é tarefa de esforço necessário à abdicação de toda roupa velha.
Cristo vive no aqui e agora quando afirma “Antes que Abraão existisse, eu sou”. Cristo não diz: eu fui, eu serei; Cristo diz eu sou; no presente, aceitando a própria realidade; despojando-se de todas as roupas antigas; como veio redimir a humanidade, carregava a roupa de todos.  

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