segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Prática da narrativa - Um obelisco no ar - 4/6 ( Em 15/07/2008 )

Era um suporte gigantesco, uma grande pedra; projetava-se para o alto; um obelisco de imensas proporções. Tinha, nas bordas, uma espécie de aura luminosa, como se banhada por luz solar, mas a luz era desmaiada, sugerindo ser irradiação do próprio ambiente. Os contornos do conjunto lembravam a “A Pietá”, uma escultura de Michelangelo representando Maria, a Mãe, com o Filho morto.
Eu não temia uma possível queda, apenas queria entender aquela beleza solta; isso me causou a perda de algum tempo no aproveitar a visão do momento. Em vez de me fixar na contemplação de conjunto tão harmonioso, eu me apeguei a um pormenor e deixei de captar a mensagem; perdi a oportunidade como aquele aluno; o professor expondo com efusões sua aula sobre a guerra de Tróia; classe atenta, um aluno levantou a mão:                 
- professor, ali não está faltando uma vírgula?
Vaia, muita vaia, é claro.
Também eu me incluí como vaiado por perder a oportunidade de analisar com mais atenção o significado de tudo aquilo.
- olha, vem vindo um asteróide deste tamanho; avisa ao povo.
Tudo isso aconteceu em um átimo de tempo, em absoluta solidão e eu não soube sintonizar-me com aquele silêncio.
Percebo agora aquilo como um degrau da escada por onde terei de subir. O difícil é dar o pulo de superar aquela distância. Não é como aquela escada que Jacó viu por onde os  anjos subiam e desciam Gn 28,12. Os anjos não têm peso; até que adquiramos a leveza para o salto, muita água terá de passar por baixo do rio.

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