Encontrei um homem. Falou-me de literatura: Sócrates, citou obras de Platão, falou sobre a Ética de Aristóteles, clássicos medievais italianos: Dante, Petrarca, de quem recitou texto e Bocaccio.
Das muitas coisas que me disse, uma me ficou como reflexão: “eu pensava que o mundo estava perdido e não havia mais ninguém que...”
Aquele homem de tanta ilustração não tinha encontrado apoio interior no próprio saber, significando o quanto essa cultura exterior agita os valores de nossa interioridade, sem todavia os despertar.
Recitei-lhe um poema em italiano e ele, falando muito alto, quis saber de minha afeição por música clássica e lhe citei algumas particularidades de obras e autores barrocos e clássicos. Quando falei de Vivaldi, ele se debruçou sobre mim e me segredou sobre as aventuras do “Il Prete Rosso”. A expressão significa o padre vermelho, um padre transgressor de alguns preceitos...
E foi conversa frutífera em pouco tempo.
Tudo isso e muito mais ao acaso, dentro de um Shoping, apenas porque o abordei por lhe oferecer um cartãozinho do blog. Beleza! Deus se colocando na frente avalisando este trabalho, senti isso.
E certo que aquele homem, acostumado a uma literatura densa, não encontrará dificuldade por ler meus textos intimistas; é certo também que seu entusiasmo superará os grandes entraves por descer ao encontro com sua Laura, que ele tanto citou de Petrarca; só que, sem perceber, exprimia o que se passava com ele mesmo.
Os grandes poetas medievais compunham suas obras inspirados em uma mulher; essa mulher; mesmo que tivesse nome e endereço, era a inspiradora de seus ideais, símbolo da alma humana.
Laura é o amor não realizado por Petrarca; era casada; isso não foi empecilho para servir ao poeta de inspiração. Se se juntassem, pode ser que o amor deixasse de ser contemplação, inspiração.
Aquele homem pareceu exultante por encontrar alguém que o ouvisse em sua formação clássica. É certo que toda a cultura não preencheu suas angústias. Acredito que outro valor maior despertou nele: arrancou de si mesmo a própria solidão.
Alimento a esperança de que faça de nosso encontro a alavanca de Arquimedes, com que possa dar impulso à construção do próprio mundo.
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