Aquele homem quis me comprar, mas o dinheiro era um nadica; não dava nem pra comprar um lote de morar na lua. Queria que eu lhe revelasse o segredo e fez de tudo com boa lábia para que eu me rendesse. Mas o segredo é muito caro e ele precisaria trabalhar a vida toda pra pagar algo que eu nem iria receber tudo, com certeza. O segredo era pra vida toda e ele queria resolver a coisa ali, no ato.
O segredo valia muito mais; o que eu queria mesmo era assimilar o tipos de argumentos que ele foi desenrolando, nas tentativas de me persuadir. Não aceitei, não rejeitei; era calar-me que o segredo tinha preço muito alto. Não podia ser alcançado com aquela tagarelice.
Pus meu segredo numa corda de violino e só quem dispõe da clave pode alcançar aquela nota que abre o cofre. Não é só tocar; é preciso dar expressão correta à nota; aí o cofre se abre e se revela lotado de moedas antigas representando brasões de outras idades.
Comecei a me preocupar que o segredo poderia ser desvendado por algum expert do violino e resolvi mudar o segredo do segredo; mudei-o para uma palavra que inseri em um dos duzentos sermões do Padre Antonio Vieira. Só quem ler aquela obra, meditando palavra por palavra pode encontrar a descrição da chave. Mas quem vai saber qual a palavra ali? Em qual sermão?
Dizem os entendidos que cada sermão durava cinco horas: começava às 9 até às 12; uma hora de intervalo; recomeçava às 13 e terminava às 15, com todas as filigranas e tessituras do barroco.
Por insistência de um amigo, acompanhei-o a um manicômio e um homem, sem mais nem menos, revelou-me tudo o que eu guardara com tanto mimo.
Aquele homem era louco; estava fora da razão.
Concluí que os loucos são pessoas além.
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