Estou cansado de ser eu; como eu gostaria de ser um tomate! Coradinho, uma barriga cheia de sementes; eu me instalaria nas pessoas e ia azucrinar a paciência da alma até que ela se rendesse a minhas persistências e facilitasse. Então me apoderaria das jóias que ela tem guardadas; seria um roubo e tanto; trazer a consciência e vendê-la no contrabando.
- quer comprar? Eu posso arrumar mais um pouco, só porque é pra você!
Conversa de camelô. Eu tinha um professor que me orientava a ouvir os camelôs, o quanto eram ágeis no conduzir à indução; comprava-se o produto só por ouvi-lo falar mais.
Atualmente os camelôs não falam; perderam a força da sedução; era o que tinham de mais refinado. Aquele professor? Sujeito inteligente! Mas meu professor não sabia produzir tomates com a habilidade que eu gostaria de alcançar.
Eu cumpriria um papel ideal de ser fonte de alimento, fonte reprodução pelas sementes; meu Deus que loucura! Talvez esteja influenciado por aquela parábola do semeador que saiu a semear sua semente, tão amplamente comentada pelo Padre Antônio Vieira no Sermão da Sexagésima.
O padre se fixa no fato de a parábola começar afirmando que “saiu o semeador a semear sua semente”. Ele afirma que o pregador saiu; informa que não voltou; além do mais a semente era sua e não alheia.
E pensar que eu queria me apossar dos bens da alma... Que vergonha!
Lá adiante Vieira quis estabelecer a diferença entre dois pregadores e se saiu com essa: “quando ouço um, saio contente com o orador; quando ouço o outro saiu descontente comigo mesmo”. Jogo de opostos bem ao gosto barroco.
Padre doido! Meu discurso ia indo tão bem, eu plantando sementes pelos campos! Por que veio se meter na minha vida! Agora eu me dei conta de que nem sei por onde remendar essa confusão que me criou no texto.
Ainda bem que eu não sou padre, em vez de tomates, sair guinchado por balões sem vento nem documento e ir dormir no ventre da baleia...
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