segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Carta - 2/4 ( Em 31/01/2008 )

Minha amada, minha querida.
De nossa conversa, sobre o desapego, como norma superior de elevação, restou-me a dúvida de que não lhe fui objetivo quanto à prática desse desapego; minha intenção era a de deixar claro que, para se praticar a abdicação, não é necessário que se abdiquem dos bens.
Os bens não devem sim, ocupar o centro de nossa vida, de nossas preocupações; o centro de nossa vida deve ser encontrado em nossa interioridade.
O desapego de que me ocupava era de outra espécie: era relacionado com a mente.
Nós cometemos um apego quando imaginamos que os outros estão olhando para nós; nós como centro dos olhares dos outros e passamos a nos atribuir ares de importância.
Se andamos pela rua e vemos alguém à janela, a mente nos diz que dita pessoa está olhando para nós e nos enchemos de posturas postiças para sermos bem vistos. A mente é incapaz de imaginar que a pessoa pode estar simplesmente olhando se ainda está lá o carro que há pouco estacionou.
Com essa visão distorcida, nós nos imaginamos importantes; percebendo ou não, perdemos a concentração sobre nós mesmos.
Perceba minha querida, como essas coisas são sutis, de difícil identificação e que nos corroem no silêncio como o cupim a madeira.
Um psicólogo fez diversas observações entre elas, em um ônibus com muitos homens conversando; se entrava uma mulher, cada um assumia uma postura diferente; entendia a si mesmo como o centro do olhar dela.
Para percebermos como a mente é dominadora, tentemos conduzir a mente para o alto, acima da cabeça; verifique como os olhos a acompanham; a mente os arrasta.
Era este o teor do desapego a que me referia e não sei se lhe ficou claro como em mim. No mais, é vivermos em sintonia; nossos corações pulsando nos mesmos ideais de felicidade.

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