Você cava a terra, joga lá dentro a semente e surge a planta e da planta surge o fruto; isso é cultura do milho, do trigo e tudo o mais.
No ser humano, a cultura se faz também assim: primeiro abrir-se a idéias afins com a alma; elas formam raízes no âmbito da interioridade e, de dentro, rebenta a plantinha, a árvore carregada de frutos: novas idéias nutridas nas profundezas do solo interior.
A cultura nasce das idéias plantadas; elas não voltam, dão cria; vêm de dentro os filhotes, alguns bem nutridos e se expressam pela visão, pela capacidade de distinguir, de relacionar, de se desvencilhar e outras muitas formas que nos ajudam aqui, do lado de fora.
A cultura exige que os assuntos corriqueiros sejam relacionados com a vida interior. Os ouvintes de uma conferência têm de levar alguma coisa que os motive a plantarem em si mesmos a semente que o conferencista espalhou.
Como faz a professora de primeiro grau?
- Menino, decore este texto e venha recitá-lo daqui a quinze dias.
Significa que, no primeiro grau, desenvolve-se a memória; no segundo grau, a razão; no terceiro grau, a inteligência.
O que se tem visto no terceiro grau? O uso maciço da memória. O bom aluno é o que sabe decorado.
Como queremos melhorar o ensino, se os de lá de cima mandam para baixo professores treinados apenas com instrumentos de baixo e sem abertura de caminhos para cima?
Vi certa vez um filme; o professor punha os alunos a ler um texto de Ovídio, poeta latino; mandava que outro repetisse o que foi lido, um terceiro deveria dar a interpretação do que foi lido
e um quarto aluno apresentaria idéias de como trazer aquilo para a vida prática na prática.
O professor foi mandado embora; aquilo não era maneira de ensinar.
Aquele professor queria tirar de dentro dos alunos as potencialidades, formar a cultura, mas a visão dos donos do ensino era medíocre.
A cultura tem de vir do interior do homem e precisa encontrar relações com que se exprimir do lado de fora; invertendo a afirmação, podemos dizer que uma pessoa é culta quando sabe estabelecer a relação entre as coisas corriqueiras e o que elas têm de comum com a alma humana.
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