- por que você escreve?
- escrevo porque não sei.
- se você não sabe, quem lhe ensina o que afirma?
- se eu soubesse não precisaria escrever.
- você nada sabe sobre o que escreve!
- eu nem sabia que escrevo!
- então você sonâmbulo!
- talvez sim; porque vejo as coisas que não sei.
- isso que você diz no papel são sonhos?
- eu sonho muito. Sabe um tipo de sonho que eu tenho? Eu estou sempre chegando
atrasado, faço um enorme esforço, mas as coisas parece que se afastam mais
daquilo que eu pretendo alcançar. Como é frustrante!
- você sabe que o sonho é sempre a projeção de um estado de alma de quem sonha?
- não sabia. Só sei que sonho com o que não alcanço.
- o que mais você sonha?
- sonho que sou eu mesmo.
- aonde quer me conduzir assim tão evasivo!
- se eu não sei pra onde vou, como posso querer conduzir você? Você sabe pra onde está
indo?
- não daria pra você abrir o jogo, e me dizer que sentido tem pra você o que escreve?
- falar em abrir o jogo, eu me lembrei daqueles passgeiros de outros tempos; o trem partia e
eles abriam seus farnéis e era comida pra todo lado; uma festa.
- ta difícil de se falar com você!
- interferências na linha. Você não quer ligar mais tarde?
- mas nós dois estamos aqui conversando!
- eu sinto sua falta; vê se me liga com mais tempo.
- vejo você no vazio; mas o vazio você mesmo diz que é um estado de graça.
- ... de que estávamos falando?
- ta louco é! Eu lhe fiz diversas perguntas e você se evadiu de todas. O que é isso?
- não quero mais escrever.
- agora sou eu que pirei de vez! Há pouco você me disse que nem sabia que escrevia
- mas agora eu sei
- o que você sabe?
- sei que não sei.
- isso quem disse foi o Sócrates, um filósofo grego.
- ele copiou de mim.
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