Lembro de meu professor. Caminhava pela sala sob nossos olhos ávidos de saber. Por aí você percebe o quanto já vai longe isso... Meu professor, citando não sei se Anaxímandro, dizia em tom respeitoso que “vida é qualquer coisa que se caracteriza por uma nutrição, por um crescimento, por um deperecimento, tendo por causa um princípio que tem seu fim em si mesmo”.
Ainda me estremeço quando recordo isso; parecia que um novo universo se abria ali, trazido por aquele homem; ele era portador de um saber a que todos almejávamos. Confesso que olhávamos para aquele professor como se víssemos um altar circulando entre nós. Meu Deus, por que isso passou! O tempo passou e eu nada aprendi...
Saber é isso: o esforço; a definição de Anaximandro pode não estar correta para nosso tempo, mas resulta de um esforço que já se fazia entre os gregos.
O corpo cresce; a vida não; o corpo deperece, a vida não; a vida não se envolve com o corpo; o corpo se envolve com a vida.
Como eu nada aprendi, ouso afirmar que a vida é um fio de teleférico; pela vida corre o bondinho, levando pessoas para as alturas...
Vida é um fio condutor esticado no tempo; existe para que as espécies que a ela se adiram, entrem numa progressão que culmine no ser humano. Se alguém morre, apenas se soltou do fio.
A vida é um dos atributos da Consciência; a Consciência faz da vida um instrumento de se manifestar.
Tudo isso lembra as contas de um rosário: vai-se passando de conta em conta, de mistério em mistério, de forma circular; elas estão presas entre si por um elemento condutor interno. Assim como por nossa vida circulam os atributos da Consciência: liberdade, coragem, amor, justiça e tantos outros.
Vida é um palco: muda-se o cenário, mudam-se os atores mas o palco está lá indiferente aos acontecimentos, indiferente às cores que por ali transitam.
A vida se estende por dentro das espécies e não se acaba com o fim delas; a matéria tem vencimento; a vida não se sujeita ao tempo; por isso está em repouso; o que está em repouso é permanente; o que se move está sujeito à mudança.
Somos inquilinos em casa alugada; chega um momento, o contrato vence e a vida chama o corretor para tirar o inquilino de lá. A vida não é a casa; apenas administra os bens de seu Senhor.
Creio que aquele velho professor fazia parte da administração; porque não conseguiu morrer dentro de mim.
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