Nunca me esquecerei daquela senhora; encontrei-a na rua; aliás, ela é que me encontrou porque se dirigiu a mim como se fôssemos velhos conhecidos. Ela me falou sobre assuntos de relevância, como o fluxo das marés e a curvatura do céu, fez uma relação entre a teia de aranha e a teoria das cordas e eu em tudo afogado, embasbacado de tanto saber que me tirou o fôlego; não há como negar, a mulher era culta mesmo.
No momento de nos separarmos, ela me fez um gesto que me retivesse ali; levantou o indicador em riste e me disse a queima roupa: o homem não precisa de ismo; o homem só precisa de ão.
Quis acompanhar aquela sábia mulher; o que significava aquilo; ela repetiu o gesto que não a seguisse; dobrou a esquina e não mais a vi.
Desde então tenho freqüentado bibliotecas, rodas de intelectuais, homens de cultura que me expliquem o significado daquele enigma. Nada. Decidi então pessoalmente, consultar os astros, o homem simples da rua, o viajor pelos caminhos. Tudo em vão.
Refiz o roteiro que a mulher desenvolvera em sua fala: o fluxo das marés, a curvatura do céu e tudo resultou em vão.
Aquilo age dentro de mim como uma pedra no calcanhar, uma verruma; faz lembrar a intransigência da esfinge ameaçando o pobre Édipo: “decifra-me ou devoro-te”.
Mas o Édipo era muito inteligente e decifrou o enigma ali, no ato, salvou o povo da doença, ganhou o reinado da cidade; o povo acreditou tanto nele que lhe deu a mãe dele com como esposa.
Ah! Tempo bom! Os homens acreditavam uns nos outros pela simples palavra; hoje tudo mudou e eu chego a pensar que esses ismos e aos estão relacionados com os cartões corporativos que atuam sorrateiros, derruindo as consciências...
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