Você é um engenheiro; precisa reformar uma casa; é possível fazer a reforma sem entrar na casa? Por extensão, você percebe que é preciso entrar nas coisas para lidar com elas com mais eficiência? Se assim é, como nós queremos modificar-nos sem entrar em nós mesmos?
Se um indivíduo que nos ofende, saiu de si mesmo; como entrar na ira dele, se ele está fora de si mesmo? Você já ouviu falar que alguém ficou “fora de si”? Os que ficam fora de si, distanciam-se de tudo inclusive deles mesmos. Qual deve ser nossa atitude senão entrar em nós?
Não sei se já lhe falei sobre certa passagem no Código Da Vinci, o autor faz críticas acerbas à religião porque, há 1.800 anos tomou providências desumanas. Ele não entrou nas circunstâncias que motivaram aquelas decisões; não pensou, por exemplo que, na época ainda era vigente o revide; o olho por olho, dente por dente. Analisou, com a visão de hoje, fatos ocorridos há tanto tempo, como se nossa mente não tivesse progredido ao longo desses quase dois milênios.
Nem sobre isso ele pensou.
É preciso entrar nas coisas, situar-se de dentro; ver-se lá dentro e, a partir daí, emitir opiniões;
Até há pouco, estava na imprensa o caso daquela menininha (sempre essas menininhas...) de 9,10 anos molestada pelo instrutor de natação olímpica.
A menininha entrou em si; não participou daquilo: não agrediu, não xingou, não abandonou seus ideais. Isso é perdão.
Pela lei de causa e efeito, a ferida teria de explodir no emissor. Mas o perdão estaria incompleto se a menina não denunciasse o autor. A denúncia veio por preservar outras crianças, e ela mesma o disse. Isso é perdão. Ele que se vire; está recebendo de volta a ferida que abriu. Entrou na ferida; como a intenção era outra que não o saber, a ferida o cobriu de lama.
O juízo final é isso: o que, no momento, foi um prazer extremo, coagulou o sangue e agora rebenta em dor extrema porque o que está voltando é a pressão que ele exerceu sobre ela, sobretudo a pressão moral.
Deixou de entrar em si, e se expôs à execração. Aquilo que se chama de plano de ação nada mais é do que o entrar em si, medir as forças, suas conseqüências. Entrar em si é prevenir; entrar em si é antever e atuar com base nessa antevisão.
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