segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Crônica - 3/4 ( Em 29/02/2008 )

Sentia um terrível vazio; a falta do coração; mas eu apenas vi aquela garota no ponto do ônibus! Desumana, arrastou consigo o coração de um leigo nesse negócio de amar. Não sou expert nessas coisas do coração; talvez por isso o tenha deixado escapar. Não nego que me senti  embevecido; era jambo, cor de mel; protótipo da feiticeira; desde então, não me encontro mais; eu que tanto tenho insistido: não saia de você, não saia de você; acho que saí e fui longe demais; perdi-me e perdi.
Fico pensando por que será que a gente vê conforme os interesses. Se não se tem interesse, não se tem afinidade; o coração não anda por aí às soltas. Parece que a afinidade transfere nosso coração para dentro da coisa sintonizada; teria sido assim! Aquela garota me enlevou a tal ponto!
Nem sempre é o interesse que desperta a afinidade. Quando duas ou mais pessoas analisam uma tela, não há interesse; há apenas afinidade ante aquele ideal de beleza. O estranho dessa visão é que cada um enxerga a mesma realidade por ângulos diferentes e cada um dá seu contributo para que a obra se expanda em mensagem e vida. Mas aquela moça estava no limite da expansão! Diante dela era emudecer!  
O fato é que eu não encontrava a expressão em mim mesmo; era um aperto sufocante; faltava algo; fui levado a um ponto de insuportável carência, sem saber de quê.
Deu-se que me percebi sem o coração. E agora! Lancei-me em desesperada procura e quanto mais me esforçava, menos o sentia; passei à necessidade, à urgência. Vali-me dos meios de comunicação:
            “Procura-se um coração
É de pessoa carente,
Em estado de fome absoluta.”
Acho que redigi mal; houve confusão: apareceram diversas candidatas; pensavam que eu carecia de um coração feminino para o aconchego, mas se eu não tinha o meu coração, como podia fazer o par!
Candidatas de perfil vário; e eu já me amolava com o ter de contar a cada uma a mesma história.
Foi então que a vi na rua; de passagem; ali estava meu coração junto ao dela: cor de jambo e mel, percebi que com ela o deixara no ponto do ônibus; passou por mim e se perdeu nas galerias de seu destino.
Só então entendi o verdadeiro significado da afinidade. Ela não apenas atrai, mas conserva  em si mesma, os traços da mútua contemplação e se reserva esperar para se fazer notada nos pormenores de sua grandeza.

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